O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou na quarta-feira (2) que irá aplicar tarifas de importação de 10% aos produtos oriundos do Brasil.
O republicano apresentou uma tabela com as taxas que serão aplicadas aos parceiros comerciais dos EUA. Segundo Trump, o patamar de 10% é uma base, e tarifas mais elevadas serão aplicadas a nações específicas.
De perdas a oportunidades
Em meio ao tarifaço que vai mexer com o tabuleiro do comércio mundial, para o Brasil, a medida está sendo vista por analistas como embaraço e impacto negativo para vários setores, motivo de mais inflação, mas também como a possível oportunidade de abertura de novos mercados. As Bolsas de Valores mundiais abriram na quinta-feira (3) em baixa generalizada ainda começando a digerir o pacotaço de Trump.
Novos mercados
A sobretaxação dos Estados de Unidos de 10% sobre os produtos brasileiros pode representar uma oportunidade de ganhos de mercado para o Brasil se o país souber negociar com outros parceiros comerciais. A avaliação é do economista e professor da Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Adalmir Marquetti. Ele defendeu a urgência da aprovação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE).
“O processo de negociação é um ponto importante a ser levado. Tem que tentar uma retaliação em alguns produtos, mas também tem que haver uma negociação com outros países. Acho a viagem do presidente Lula para o Japão e para o Vietnã importante no sentido de buscar novos parceiros comerciais, de intensificar nossas relações com esses países que estão crescendo, estão se tornando importantes na economia mundial”, disse o professor.
Para Marquetti, o acordo Mercosul–UE tem importância estratégica para amenizar o impacto da decisão do governo de Donald Trump. Segundo ele, o acordo não beneficiará apenas a balança comercial (exportação e importação de bens), mas também a balança de serviços, em que o Brasil importa muito mais do que exporta e consome cerca de 40% do superávit comercial.
Com as tarifas adotadas por Trump, o Brasil pode ampliar ainda mais o comércio com a China e outros possíveis parceiros comerciais. Parceiros em potencial seriam, por exemplo, o México e o Canadá, já em conflito tarifário com os EUA. Essa poderia ser a oportunidade de esses dois países iniciarem negociações com o Mercosul.
É o que defende o senador Confúcio Moura, que presidia a Comissão de Infraestrutura (CI) até o início deste ano. Para ele, é preciso buscar oportunidades de negócios em outros países do mundo.
Negociação e outros parceiros
“Certamente, [a sobretaxação de Trump] abre um espaço de negociação e de busca de novos parceiros comerciais. Inclusive o acordo do Mercosul com a União Europeia, esse é o momento de implementar. Esse acordo, de buscar as novas parcerias do Brasil que envolvam tanto a balança de bens e de serviços. Temos uma balança comercial bastante positiva, mas a nossa balança de serviços, no caso brasileiro, é negativa”, disse o professor.
Marquetti lembrou que a decisão dos Estados Unidos abrange apenas as importações de bens, não de serviços. Isso porque o país é um dos maiores exportadores de serviços do planeta, principalmente de serviços tecnológicos e audiovisuais.
O professor disse ainda que o Brasil, como a sétima ou a oitava maior economia do planeta (dependendo da medição), tem espaço para ocupar o mercado mundial à medida que outros países retaliarem os Estados Unidos. Ele, no entanto, recomenda que o processo não ocorra apenas com produtos agrícolas e minerais, mas abranja produtos de maior valor agregado.
“O Brasil tem um espaço para ocupar o mercado mundial, inclusive o espaço que os outros países, ao responderem aos Estados Unidos, deixarem de comprar. No caso da China, os chineses já estão comprando mais produtos agrícolas brasileiros. E aqui tem um ponto importante: como a gente pode aproveitar essa crise mundial, com origem nas tarifas nos Estados Unidos, para melhorar a nossa pauta de exportação? Para a gente, exportar também mais produtos industriais e com maior valor adicionado na economia nacional”, concluiu.
Reciprocidade comercial
Após o anúncio de Trump, a Câmara dos Deputados aprovou, na noite da quarta-feira (2), o Projeto de Lei 2.088/2023, que cria a Lei da Reciprocidade Comercial, autorizando o governo brasileiro a adotar medidas comerciais contra países e blocos que imponham barreiras aos produtos do Brasil no mercado global. Agora, o texto segue para sanção presidencial.
O governo brasileiro não descarta a possibilidade de recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra o tarifaço, informaram os ministérios das Relações Exteriores (Itamaraty) e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). No entanto, a prioridade neste momento é negociar a reversão das medidas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos.
O Artigo 1º do Projeto de Lei da Reciprocidade comercial estabelece critérios para respostas a ações, políticas ou práticas unilaterais de país ou bloco econômico que "impactem negativamente a competitividade internacional brasileira". A lei valerá para países ou blocos que "interfiram nas escolhas legítimas e soberanas do Brasil".
No Artigo 3º, fica autorizado o Conselho Estratégico da Câmara de Comércio Exterior (Camex), ligado ao Executivo, a "adotar contramedidas na forma de restrição às importações de bens e serviços", prevendo ainda medidas de negociação entre as partes antes de qualquer decisão. O prazo para que seja sancionada pelo presidente da República e entre definitivamente em vigor são 15 dias úteis após a aprovação.
Desafio às exportações
A recente imposição de tarifas adicionais pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros impacta diretamente setores estratégicos da economia nacional. As medidas, anunciadas no início de 2025, afetam principalmente a indústria siderúrgica, o agronegócio e manufaturados, exigindo que exportadores brasileiros revisem contratos, adaptem estratégias comerciais e busquem novos mercados para manter a competitividade.
De acordo com Thiago Oliveira, CEO da Saygo, empresa especializada em comércio exterior, as novas tarifas representam um desafio significativo para exportadores que dependem do mercado norte-americano. “É preciso agir rapidamente para minimizar os impactos dessas medidas. A diversificação de mercados e a agregação de valor aos produtos são estratégias fundamentais para superar esse cenário adverso”, afirma.
Setores mais afetados
Siderurgia e metalurgia: O Brasil, um dos principais fornecedores de aço para os EUA, enfrenta novas tarifas de até 25% sobre produtos semiacabados. Isso pode reduzir a competitividade da indústria nacional frente aos concorrentes asiáticos.
Agronegócio: Exportadores de carne bovina processada e suco de laranja sofreram aumento de taxas, o que eleva os preços no mercado americano e reduz a atratividade dos produtos brasileiros.
Indústria de manufaturados: Segmentos como autopeças e máquinas industriais também foram impactados, exigindo revisão de estratégias comerciais para manter a viabilidade das exportações.
Com as barreiras tarifárias nos Estados Unidos, as empresas brasileiras buscam ampliar sua presença em mercados alternativos. O Canadá, por exemplo, vem se consolidando como uma opção viável para exportadores brasileiros. Em 2023, o volume de exportações do Brasil para o país cresceu significativamente, demonstrando uma tendência de diversificação comercial.