Grupo Boca Livre no Teatro RioMar traz "O passado, o presente e o futuro"

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Quarteto volta a se reunir depois da separação em 2021 para lançar novo single, fazer shows, celebrar Grammy e trazer para as plataformas digitais dois álbuns clássicos Foto: Divulgação

“De forma inesperada, surpresa revelada: Milagre, aparição Vertigem ou miragem, esfinge na paisagem: Atinge o coração”. Os primeiros versos da novíssima canção parecem trazer embutida a notícia que já corria à boca pequena, mas que agora é oficial. O que era vertigem, miragem para os fãs de música brasileira, tornou-se milagre, aparição. Eis a surpresa revelada: o Boca Livre voltou! 

A separação, ocorrida em 2021, causada, evidentemente, pelas confusões da pandemia e as discordâncias da vida brasileira nos últimos anos, mostrou-se apenas uma pequena interrupção na trajetória de 45 anos do grupo. A velha amizade e, principalmente, a harmonia - musical em geral e vocal em particular – venceram. O show em Fortaleza acontece dia 27 de junho, às 21h no Teatro RioMar Fortaleza e os ingressos estão disponíveis em uhuu.com e na bilheteria do Teatro.

Reencontro 

Aparentemente conformados, ao contrário dos fãs, com a definitiva separação, David Tygel, Lourenço Baeta, Maurício Maestro e Zé Renato começaram a receber, no entanto, sinais de que não era bem assim. O primeiro sinal foi no início do ano, quando o Boca Livre ganhou o Grammy de melhor álbum de pop latino com “Pasieros”, no qual, a convite do compositor, interpretam a obra do panamenho Rubén Blades, disco gravado em 2011, mas lançado somente em 2022, trabalho atualíssimo que o grupo não teve oportunidade sequer de divulgar. 

Atrasados por causa de um engarrafamento de limusines em Los Angeles, David Tygel e Zé Renato chegaram à cerimônia de premiação um pouco depois de Lourenço Baeta agradecer num inglês assustado ao importantíssimo prêmio. Juntos, os três ligaram para Mauricio Maestro, que ficara no Brasil. Primeiro reencontro.

O segundo sinal foi a intenção do produtor original dos LPs, João Mário Linhares, de relançar nas plataformas digitais os dois primeiros – e míticos - discos do Boca. Ou seja, o destino estava a dizer que, sim, o Boca Livre tinha um presente a viver: festejar, badalar, e até quem sabe levar para o palco um disco novo que ganhou o prêmio internacional mais importante da indústria musical.

E tinha um passado para cuidar: trazer para o mundo digital o inaugural Boca Livre (1979), famoso como fenômeno do disco independente que lançou o grupo e consagrou clássicos da música brasileira como “Quem tem a viola”, “Toada”, “Mistérios”, “Diana”, entre muitos outros; e o não menos importante “Bicicleta” (1980), com outros clássicos, e a participação de ninguém menos do que Tom Jobim em duas faixas (“Correnteza” e “Saci”) e do percussionista Naná Vasconcelos.

A volta

Então vamos organizar aqui como será a agitada volta do Boca Livre. A primeira ação, a partir agora do dia 22 de setembro, será o lançamento, pela gravadora Universal, dos dois primeiros álbuns do grupo nas plataformas de streaming. Muito oportuno, aliás, para um grupo que se refunda, voltar antes de tudo às origens. 

E o que se encontra lá? Em “Boca Livre” (1979), mais do que um desfilar de clássicos e a memória de um sucesso estrondoso – mais de 150 mil cópias de uma produção independente, fato inédito para a época – a consagração de um estilo logo no primeiro trabalho: as violas e violões se entrelaçando; os vocais sofisticados, cada voz como que fazendo solo sem perder a harmonia; o lançamento de composições de integrantes do grupo, “Toada” e “Quem tem a viola” de Zé (em parceria com Claudio Nucci, que fazia parte da primeira formação), “Mistérios” de Mauricio, “Minha terra” de David, e até uma composição de Lourenço, o clássico “Feito mistério”, que viria a entrar no lugar de Claudio apenas no segundo disco. Isso sem falar na impecável seleção de repertório, composições de autores ao mesmo tempo modernos e telúricos, gente como Milton Nascimento (“Ponta de areia”), Toninho Horta (“Diana”, “Pedra da lua”), Nelson Angelo (“Boi”, “Fazenda”), Geraldo Azevedo (“Barcarola do São Francisco”). E trazendo letristas da estirpe de Juca Filho, Fernando Brant, Joyce Moreno, Cacaso, Carlos Fernando.