Bancos querem acabar com crédito parcelado "sem juros", Abrasel reage

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Parecer em relatório do Desenrola descarta fim de parcelamento sem juros no cartão de crédito, que concentra cerca de 75% das compras no comércio, mas bancos querem a mudança. Setor de bares e restaurantes rechaça mudança

Com a definição de limitação aos juros no rotativo do cartão de crédito veio à tona novamente a ideia de acabar com o crédito parcelado "sem juros".

A medida já foi ventilada e o setor de bares e restaurantes reagiu, através da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), diante da possível repercussão negativa para os negócios do setor e o impacto negativo para o consumidor.

"Redesenho"

A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) havia emitido uma nota em que defendia “uma solução construtiva” que “pode incluir o fim do crédito rotativo e um "redesenho das compras parceladas no cartão”.

Antes, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o consumidor não poderia ser prejudicado pelo fim do parcelamento sem juros, que concentra 75% das compras no comércio.

Agora, grandes bancos vão ao Conar e pedem que Abrasel tire do ar propaganda que defende parcelamento sem juros no cartão. O pedido, assinado por Bradesco, Itaú e Santander, justifica que peças trazem informação inverídica ao dizer que bancos querem aleijar o parcelamento. No entanto, o próprio documento contradiz isso.

Vantagem para quem
 
Os bancos Bradesco, Itaú e Santander protocolaram na véspera do feriado de 7 de setembro um pedido de liminar ao Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) para que a Abrasel seja forçada a tirar do ar a campanha em defesa do parcelamento sem juros no cartão. Nas peças, a entidade chama a atenção de maneira clara para a intenção dos bancos de acabar com a competitividade do parcelado sem juro, no âmbito da discussão sobre o financiamento rotativo no cartão de crédito. Na visão da Abrasel, as alterações no parcelamento sem juros traria perdas para os cidadãos, para o setor de comércio e serviços e para o País, em benefício exclusivo das instituições financeiras.

Reação da Abrasel
 
De acordo com a Abrasel, “no próprio pedido ao Conar os bancos reconhecem que entregaram estudo ao governo apontando necessidade de mexer no parcelado sem juros. Para isso usam eufemismos, como redesenho ou remodelagem. Ora, basta ver na imprensa centenas de reportagens sobre a verdadeira intenção dos bancos: aleijar, acabar com a competitividade desse tipo de parcelamento. O que a Abrasel fez foi trazer este alerta para a sociedade de maneira clara e transparente, chamando para o debate”, afirma o presidente da Abrasel, Paulo Solmucci.
 
No pedido ao Conar, a Febraban e os três grandes bancos reconhecem também o sucesso do parcelamento sem juros no Brasil: a modalidade representa 75% do total gasto com cartão de crédito no País. 
 
“Querem nos calar, ignorando o apoio que recebemos de parlamentares, de autoridades e da sociedade neste alerta que, é importante dizer, continuaremos a fazer. Tem de haver um debate público sobre este tema. O Brasil não aceita mais conchavos e acordos secretos feitos em gabinetes, ainda mais em um assunto que mexe com a vida de milhões”, completa Solmucci.

Febraban classifica de "distorção"

A Febraban atribui ao parcelamento de compras sem juros, modalidade criada no Brasil, a distorção sobre as taxas para as demais linhas do cartão de crédito, por criar uma espécie de subsídio cruzado, em que os consumidores que pagam em dia cobrem os custos dos inadimplentes por meio de tarifas mais altas. Bancos pequenos e algumas fintechs (startups do setor financeiro) se opõem a essa visão e têm afirmado que a concentração de mercado e a falta de competidores no setor financeiro são os responsáveis pelos juros altos.