Quatro estratégias se consolidaram como resposta dominante à conjuntura econômica atual: troca por categorias mais baratas, busca por novos produtos, priorização de preço em detrimento da marca e diversificação dos canais de compra.
A mais recente edição da pesquisa Full View 2025, realizada pela NielsenIQ, revelou o que o consumidor tem feito para driblar a situação em um ambiente de consumo desafiador, pressionado por inflação persistente, juros altos e câmbio instável.
Valor percebido
“O consumidor está mais pragmático. Ele não compra apenas por hábito, mas por valor percebido. Faz trocas, experimenta, compara e busca encaixar o orçamento com inteligência”, afirma Alfredo Costa, presidente da NielsenIQ no Brasil.
Controle de compras por ocasião
Apesar de ampliar a presença em mais canais de abastecimento, ele está reduzindo o número de visitas às lojas, controlando mais as compras por ocasião. Além disso, cresce o movimento de substituição de produtos por similares de menor valor, especialmente entre itens básicos.
e-commerce e atacarejo
Nessa estratégia, tanto o e-commerce quanto o Atacarejo se destacam como canais que contribuem com a estratégia do consumidor. Não por acaso o e-commerce foi o que mais cresceu proporcionalmente, com alta de 19,1% em comparação a 2023, se tornando uma opção de compra até para produtos básicos.
O canal Cash & Carry se consolida como protagonista no momento de decisão do consumidor. O número de visitas cresceu 15,5%, ainda que a frequência geral de ida ao ponto de venda tenha permanecido estável. Segundo a NielsenIQ, 67% desse crescimento vem de consumidores que já utilizavam o canal, agora com maior frequência, e 22% corresponde à migração de clientes de outros canais.
Mesmo com ritmo mais lento de abertura de novas lojas, o Cash & Carry apresentou crescimento real de 12,5% no primeiro trimestre de 2025, metade proveniente de unidades já existentes — o chamado crescimento orgânico.
Inflação dita regras
O levantamento mostra que 36% das categorias de FMCG (bens de consumo de giro rápido) cresceram em faturamento majoritariamente por aumento de preço, e não por aumento de volume.
Essa dinâmica levou à desaceleração no consumo no primeiro trimestre de 2025, embora o faturamento total do setor siga em expansão. “O impacto da alta de preços é ainda mais significativo entre a população de baixa renda”, observa Costa. “78% das categorias subiram de preço, e não há sinais de desaceleração.”
Comportamento
A Full View 2025 identificou quatro principais comportamentos adotados pelas famílias brasileiras para enfrentar o cenário econômico:
1- Troca por categorias mais baratas – O movimento de substituição ocorre em todas as cestas e é uma das reações mais consistentes à alta dos preços. Segundo a NielsenIQ, 40% das categorias perderam faturamento por substituição. Dessas, 74% foram trocadas por similares mais acessíveis, e 29% também registraram queda na penetração domiciliar.
2- Busca por novos produtos e marcas – 26,7% dos consumidores consideram extremamente importante a introdução de novas opções para produtos básicos; para complementares, a taxa é de 23,8%.
3- Preço acima da marca – 62% dos lares priorizam o preço em detrimento da marca, e 57% afirmam buscar ativamente promoções como fator determinante de compra.
4- Diversificação de canais – o consumidor brasileiro está usando múltiplos canais de forma estratégica. Destaque para os supermercados grandes e o Cash & Carry, que cresceram 10% e 19,7%, respectivamente.